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Voltando-nos para a luz
Um cultivo do sensível, uma estética da imaginação, uma linguagem dos afetos, fertilizando uma metamorfose da mente no tempo entre dois...
O mundo todo está dando respostas.
O que demora é o tempo das perguntas.
José Saramago
Quando o que o tempo atual demanda de nós é um completo redesenho de nosso habitar coletivo no mundo, o que precisamos, talvez mais do que ação imediata, é o cultivo de uma confiança profunda e disciplinada em não saber.
Não saber não é negar ou ignorar toda a nossa experiência ou todo o conhecimento disponível.
Não saber é uma escolha intencional de sustentar tudo isso, dentro de nós mesmos e em nossos espaços relacionais, de forma leve, tirar do foco.
Suavizar o olhar.
Afinar os sentidos.
Observar - dentro e fora.
Aprofundar a observação em conversa.
Submeter crenças e certezas à ação metamorfoseadora do fazer - um fazer engajado com outros em contextos com multiplicidade de vozes.
Buscar, cada vez mais, melhores perguntas.
Trabalho com pessoas, grupos e organizações, criando espaços de diálogo, cultivando perguntas generativas, facilitando novas formas de entender e atuar dentro dos diversos contextos que habitam, desbloqueando impasses, ressignificando experiências e abrindo espaços para o novo - para ações criativas e intencionais, capazes de gerar novas realidades - mais inseridas nas possibilidades, entrelaçamento e beleza do mundo.
Somos assim.
Sonhamos com o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece.
O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
Os irmãos Karamazov
Fiódor Dostoiévski